terça-feira, agosto 24, 2004
Mais Dinheiro para a Educação? II
A propósito do post anterior, encontrei no Bloguitica um comentário bem formado, é pena não ser possível identificar o autor.
"(...)agradeço-te a dica do artigo da professora Fátima Bonifácio, do maior interesse e importância, mas há um ponto de discórdia:
«Convenci-me ultimamente de que o panorama não melhoraria significativamente nem que os programas e os professores fossem todos excelentes. Não há assunto nem eloquência capazes de obrar o milagre de despertar a atenção e a curiosidade de uma massa estudantil inteiramente desinteressada em aprender e unicamente apostada em "passar".»
Não concordo, e esta afirmação pode encerrar uma desculpabilização -- mais uma -- de uma parte importante e decisiva do sistema, o que se deve evitar em abono da verdade e da possibilidade de mudar alguma coisa no futuro. Serão concerteza muitos os factores que contribuiram para a degradação a que se assiste no sistema de ensino -- muitos estarão identificados pela professora Fátima Bonifácio --, mas é preciso verificar duas ou três coisas importantes:
- que são professores universitários a dominar o sistema político (há muitos anos), a estabelecer as leis e a definir os nossos caminhos, nesta e noutras matérias -- parece que daí não tem vindo grande vantagem;
- que são professores universitários a ensinar os professores do ensino secundário e a determinar em grande medida a sua futura actuação (os níveis de exigência baixaram primeiro onde? o que apareceu primeiro, a galinha ou o ovo?);
- que muitos dos professores universitários também estão quase tão ignorantes, em importantes facetas da personalidade/inteligência/sensibilidade de um cidadão, ainda por cima pedagogo, como os seus alunos, e são incapazes de motivar qualquer interesse nas matérias que "leccionam" (deviam leccionar menos), incapazes de mostrar prazer nelas e incapazes de valorizar a inteligência. Em muitos casos valoriza-se a memorização e quase apenas isto. O professor não é aquele estímulo intelectual que se esperava, no secundário, vir a encontrar na Universidade -- eu esperava!
Quem vendeu este presente aos jovens? Quem vendeu isto aos portugueses? Quem montou este sistema? A democratização? A massificação? Claro, mas como e porquê?
E que fique claro: não estou a querer responsabilizar os professores universitários, nem quaisquer outros, por esta desgraça. Também não estou a querer desresponsabilizar os estudantes. Algures na divisão de responsabilidades estará a solução, ou um caminho algo melhor. Pela exigência, pelo trabalho, pelo respeito e pela justiça. E por uma oportunidade, aos que querem trabalhar, de aceder a isto. Sem demagogias, sem moralismos podres. E também, porque não, com lazer e prazer, muito prazer. Um forte abraço.
# posted by PP : 01:25"
"(...)agradeço-te a dica do artigo da professora Fátima Bonifácio, do maior interesse e importância, mas há um ponto de discórdia:
«Convenci-me ultimamente de que o panorama não melhoraria significativamente nem que os programas e os professores fossem todos excelentes. Não há assunto nem eloquência capazes de obrar o milagre de despertar a atenção e a curiosidade de uma massa estudantil inteiramente desinteressada em aprender e unicamente apostada em "passar".»
Não concordo, e esta afirmação pode encerrar uma desculpabilização -- mais uma -- de uma parte importante e decisiva do sistema, o que se deve evitar em abono da verdade e da possibilidade de mudar alguma coisa no futuro. Serão concerteza muitos os factores que contribuiram para a degradação a que se assiste no sistema de ensino -- muitos estarão identificados pela professora Fátima Bonifácio --, mas é preciso verificar duas ou três coisas importantes:
- que são professores universitários a dominar o sistema político (há muitos anos), a estabelecer as leis e a definir os nossos caminhos, nesta e noutras matérias -- parece que daí não tem vindo grande vantagem;
- que são professores universitários a ensinar os professores do ensino secundário e a determinar em grande medida a sua futura actuação (os níveis de exigência baixaram primeiro onde? o que apareceu primeiro, a galinha ou o ovo?);
- que muitos dos professores universitários também estão quase tão ignorantes, em importantes facetas da personalidade/inteligência/sensibilidade de um cidadão, ainda por cima pedagogo, como os seus alunos, e são incapazes de motivar qualquer interesse nas matérias que "leccionam" (deviam leccionar menos), incapazes de mostrar prazer nelas e incapazes de valorizar a inteligência. Em muitos casos valoriza-se a memorização e quase apenas isto. O professor não é aquele estímulo intelectual que se esperava, no secundário, vir a encontrar na Universidade -- eu esperava!
Quem vendeu este presente aos jovens? Quem vendeu isto aos portugueses? Quem montou este sistema? A democratização? A massificação? Claro, mas como e porquê?
E que fique claro: não estou a querer responsabilizar os professores universitários, nem quaisquer outros, por esta desgraça. Também não estou a querer desresponsabilizar os estudantes. Algures na divisão de responsabilidades estará a solução, ou um caminho algo melhor. Pela exigência, pelo trabalho, pelo respeito e pela justiça. E por uma oportunidade, aos que querem trabalhar, de aceder a isto. Sem demagogias, sem moralismos podres. E também, porque não, com lazer e prazer, muito prazer. Um forte abraço.
# posted by PP : 01:25"